terça-feira, 1 de maio de 2012

A História do Cipo (Hunikuin)

A Historia do Cipo (Hunikuin)
A história do cipó é sobre um índio caçador da floresta e uma índia encantada.
Um dia, o índio foi caçar dentro da floresta. No caminho, na beira do lago, encontrou um pé de jenipapo, fruta que dá fartura e comida aos bichos da mata.
Ele parou de caminhar. Tinha muito rastro de anta e veado. Pensou e fez uma tocaia para poder esperar a anta e o veado. Fez uma casa pequena de palha de jarina bem fechada. Entrou na tocaia e ficou esperando os animais. Nada de chegar o txashu (veado) e awa (anta). Ficou aperreado, sentiu sono e dormiu dentro da sua tocaia. De repente, ouviu um barulho, levantou-se para ver o que era. Viu uma awa procurando jenipapo.
Pegou três frutas de jenipapo e foi descendo devagarzinho na beira do lago.
O homem da tocaia começou a prestar atenção no segredo da anta, o que ela estava fazendo. A anta ficou na beira do lago, jogou as frutas de jenipapo para baixo, para cima e no meio. A awa ou anta ficou esperando e logo começou a sair muita espuma do meio do lago. No meio da espuma, ela boiou: uma mulher clara, de cabelos compridos e lisos, magra e bonita. Era uma mulher jiboia que vinha atrás da anta. Ela subiu pra terra, abraçou e beijou a awa. A anta transou com a mulher jiboia.
O homem da tocaia viu o segredo da awa e, somente observando, apaixonou-se pela mulher encantada.
A awa terminou de fazer amor com ela e combinou para se encontrarem na outra semana. O homem dentro da tocaia ouviu a conversa dos dois. A awa foi embora e a mulher sumiu para dentro do lago. O homem pensou. Saiu de dentro da tocaia fazendo do mesmo jeito que a awa fez: pegou três frutas de jenipapo, jogou do jeito que ele viu. Demorou pouco tempo e começou a sair espuma, saiu do mesmo jeito, a mulher muito bonita (hadua). Ela chegou à beira do rio e procurou o homem que a chamou:
– Onde você está escondido? Saia logo.
O homem da tocaia ficou escondido e respondeu:
– Eu estou aqui, esperando por você.
Ela subiu para a terra e encontrou o homem sentado. Ela chegou perto dele e perguntou:
– Quem me chamou?
O homem respondeu:
 – Fui eu. Estou chamando porque estava caçando, encontrei jenipapo na beira do meu caminho, vi anta e veado comendo muitas frutas de jenipapo. Fiz tocaia para ficar esperando veado e anta. A anta chegou e fez mágica no lago. Saiu uma mulher muito linda, eles tiveram relação, vi de dentro da minha tocaia. Quando foram embora, a anta e a mulher, fiquei apaixonado pela mulher. Fiz a mesma coisa que a anta fez.
O homem falou assim. Ela achou graça e respondeu para ele:
– Eu sou uma mulher, mas não sou daqui, eu moro muito longe. Faz tempo que tu estas aqui?
Ele respondeu:
– Faz horas. E eu vi tudo como a anta fez com a mulher. A mulher perguntou:
– Tu tens mulher?
O homem respondeu
– Eu tenho. E você, tem marido?
Ela falou:
– Somente tenho namorado.
– Então vamos txuta?
Ela aceitou. O homem txutou. Ela gostou muito de fazer amor. Depois disso, a mulher
não quis mais deixá-lo.
Ela o convidou para morarem juntos. O homem aceitou.
A mulher pegou remédio, botou no olho do índio, já encantado com ela. Ele foi com ela para a terra da jiboia, debaixo da água, para outro mundo. Virou encanto de jiboia.
Chegou a sua casa, entrou e ficou dentro de seu quarto. Ela falou assim pra ele:
– Eu vou avisar para o meu pai e a minha mãe.
Foi e avisou assim:
– Eu já consegui marido.
Os parentes dela gostaram dele. Ele morou com ela 12 anos, fez três filhos jiboia, dois homens e uma mulher. Um dia a mulher jiboia começou a preparar cipó para tomar com o seu povo. Quando estava tirando muito cipó e fazendo o preparo, o marido chegou e perguntou:
– O que é isso?
A mulher dele explicou:
Esse é cipó Huni Pae. Estou fazendo chá para beber e ver coisa bonita.
Ele ficou animado e disse:
– Então eu vou tomar também.
A mulher disse que ele não podia beber.
– Você é uma pessoa nova, que está conhecendo agora, então você não pode tomar
com a gente.
O homem teimou e tomou o cipó preparado. A mulher, o sogro e a sogra tomaram e
veio a miração muito forte, apresentando muita luz forte.
O homem não aguentou, quando a mulher começou a cantar, a sogra e o sogro estavam
cantando também. Ele começou a gritar, pensando que não retornaria mais. Estava vendo
na miração que seu sogro o estava engolindo, ele se viu dentro da jiboia.
Quando a pressão foi embora o homem parou de gritar, mas quando estava gritando
contou sobre a sua vida. E quando estava dentro da jiboia descobriu que a sua mulher era
uma jiboia. Até então ele não sabia que estava encantado.
Todos da família da mulher ficaram desconfiados, não estavam mais gostando dele.
O índio ficou todo triste e desconfiado, se fechou com ele mesmo. Ficou pensando que estava perdido morando muito longe de sua família antiga. Não tinha nenhuma ideia para voltar pra sua família.
Até que um dia chegou uma mulher bem morena. O homem estava sentado lá fora pensando, a mulher passou perto dele. E falou:
– O que você está pensando homem?

O homem respondeu:

– A minha mulher não quer mais morar comigo.
A mulher respondeu:
– Meu nome é Ixkê, moro perto da sua família, que você deixou. Está vendo o meu cabelo todo assanhado? É por causa de você, que deixou a sua família. Estão todos passando mal, eles queriam me pegar e puxaram o meu cabelo. Melhor tu ir embora, não morar mais aqui, a tua mulher jibóia está aprontando para te matar.
O índio falou com Ixkê:
– Como posso voltar?
– É muito fácil. É assim: vai pegando o igarapé, subindo até a cabeceira, e lá vai encontrar
raiz da paxiúba, onde está pingando água. Tu sais, vai embora.
Ixkê explicou pra ele. No outro dia o índio foi caçar, falou para mulher assim:
– Eu vou caçar e volto aqui.
Ele saiu bem cedinho, pegou o igarapé, foi subindo até encontrar com Ixkê e encontrou a raiz de paxiúba.
Boiou e apareceu perto da sua casa, deste lado do mundo.
Encontrou um parente dele, ficou na casa do cunhado antigo. Contou a sua história com a mulher jiboia.
O homem passou um tempo morando com seu cunhado.
Os três filhos que teve com a mulher jiboia estavam muito preocupados procurando o pai.
Deste lado do mundo, ele foi caçar de novo na beira do igarapé e encontrou o seu filho mais novo. O filho jibóia, vendo que encontrou o pai dele, chamou o outro irmão, a irmã e a mãe.
O filho que encontrou o pai, logo engoliu o dedo do pé. O filho jiboia gritou assim:
 – Siri, siri, siri.
Veio o outro filho mais velho e engoliu até a coxa. Veio o outro filho mais novo e engoliu até a cintura.
O homem começou a gritar chamando seus outros parentes do mundo de cá:
– Venham meus parentes. As jiboias estão me engolindo.
Gritou para os outros parentes escutarem. O parente escutou, veio na carreira e encontrou o homem com a cintura sendo engolido pela parenta jiboia. Com os outros parentes, conseguiram tirar ele.
O homem ficou com o corpo todo mole, ficou na rede, estava doente, falou para seu cunhado:
– Quando eu morrer, me enterra. Passando seis meses pode me procurar na minha sepultura. Na parte direita vou virar cipó, na parte esquerda vou virar rainha. Tira o cipó, corta uma palma de comprido, bate com um pedaço de pau, tira a casca, bota água junto com a folha, pode cozinhar e depois, cantando, eu fico dentro do cipó explicando para você.
Foi explicando para o cunhado dele enquanto ele morria. Enterraram. Passou seis meses, o cunhado dele foi visitar a sepultura e já tinha nascido o cipó e a rainha. Tirou os dois juntos. Fez como ele havia explicado.
Fez o cipó, tomou, veio a miração. Teve muitas explicações, mostrando o futuro, presente e passado. É verdade, do homem surgiu o cipó. É essa a nossa história.