sábado, 23 de julho de 2011

Palavras de um Xamã

Palavras de um xamã

“Na minha tradição, a gente costuma dizer que a tristeza é a perda do poder pessoal. Esse poder é interno, é o poder do ser, da alma. Infelizmente, o homem passou a acreditar que tudo que ele precisa só pode ser encontrado no outro ou no mundo externo. É como se a afirmação da vida dependesse única e exclusivamente da atenção do outro, de uma situação política, histórica ou de um bom posicionamento social e profissional. Ele está totalmente voltado para fora, buscando de uma forma insana a sua felicidade. É preciso inverter esse movimento, retornando à imensa força que está esquecida dentro de nós. A causa verdadeira das grandes tristezas está na alma, no ser interno. E onde que esse ser interno encontra vida, beleza e força? Ele basicamente necessita perceber que ele próprio é muito maior que o seu momento, ele é parte de um grande complexo chamado vida e esse grande complexo se nutre de coisas essenciais e simples como uma respiração saudável, um nascer e um pôr-do-sol, uma noite enluarada, estrelada, essa imensidão que se encontra dentro de nós. E esse alimento leva para o homem ingredientes que vão determinar uma maior ou menor qualidade dos seus pensamentos, emoções e ações. Temos que ser responsáveis por tudo isso. A meta de todo ser humano deveria ser a conquista de um pensamento lúcido, emoções equilibradas e uma ação justa: esse é um homem feliz. Esse é o princípio da espiritualidade, o seu eixo. E com esse eixo você combate a tristeza e as dificuldades com tranqüilidade e vai superá-las, transformando a si próprio. Na verdade, o poder de cura está dentro de cada um. Nós somos, ao mesmo tempo, o veneno e o antídoto. Nós, pajés, não somos a cura. Somos um veículo capacitado para restituir ao doente a sua própria força de cura.” Kaká Werá
“A grande doença da atualidade é a doença da alma. O ser humano esqueceu da sua alma, está adormecido e conseqüentemente se fechou para as forças da natureza, porque alma e natureza caminham estritamente juntas, são mãe e filha. Todo o desequilíbrio que nós temos hoje manifestado está nesse eixo, e é por isso que a grande questão do século XXI é a questão ecológica-espiritual. Uma não pode ser trabalhada sem a outra.
Uma doença é uma poluição interna, uma poluição do seu ar. Logo, do seu pensamento; Ou uma poluição das suas águas. Logo, de suas emoções. Ou uma poluição do seu fogo, que é a sua vontade interna, seu eu. E finalmente, é uma poluição da sua terra, que é seu corpo físico.
É nesse sentido que a questão da cultura indígena surge nestes tempos para ser percebida de uma outra maneira, inédita, com toda a força da base espiritual que ela pode fornecer, para que finalmente possamos fundar uma nação. (...) Uma nação se funda a partir de raízes, e as nossas mais profundas raízes passam por essa rica tradição espiritual do povo indígena.” Pajé Kaká Werá

terça-feira, 19 de julho de 2011

Faixas e Pulseiras

Faixas
Na tradição Huni Kuin ou Yawanawa são usadas faixas na cabeça tecidas em tear com fios de algodão ou fios com miçangas com desenhos tribais denominados de kenê.
Os Kenês nas faixas de cabeça, pulseiras e peitoral representam vários animais. Tem a Jibóia, a Patinha da Onça, o Jacaré, o Olho do Periquito...
Os Kenês também são usados na pintura corporal onde tem representações diversas e desenhos usados para pintura corporal masculina, feminina e em crianças.
As cores também variam. Tradicionalmente os Huni Kuin priorizam o preto e branco, mas podem estar representados pelas cores verde, vermelho, azul, laranja...
Eu tenho uma tecida em marrom e branco, com miçangas brilhantes, presente do meu txai (muito amigo) Shanehu Yawanawa que representa a Jibóia do seco, como também uma de cada cor, dependendo do que estamos precisando, buscamos na cor e no animal representado seus atributos de visão, cura, ensinamento, proteção, inspiração...
A cobra tem vinte e cinco malhas, mas cada uma dá em vários outros desenhos. “No fim das contas, todos os desenhos pertencem à mesma pele da jibóia.” (Agostinho Kaxinawa)
Edivaldo, jovem liderança, expressou-se em termos similares: "O desenho da cobra contém o mundo. Cada mancha na sua pele pode se abrir e mostrar a porta para novas formas. Há vinte e cinco manchas na pele de Yube (jibóia) que são os vinte e cinco desenhos que existem."
A tecelagem é uma arte muito valorizada tanto nas túnicas quanto nas redes.

Os animais da floresta

Os animais da floresta
Os bichos da mata são nossos amigos e também a nossa sobrevivência, o que nos dá força para o trabalho. Tem bicho de todas as cores: amarelo, vermelho, azul, verde, etc. Tem bichos que avisam como o cujubim, que canta às 5 horas da manhã, batendo sua asa, chamando o sol para nascer.
Os bichos da mata, nós contamos assim: os bichos de pena, ou os que voam, os da terra ou os debaixo da mata, os bichos de debaixo da terra, os bichos d’água.
Entre os bichos da terra ou debaixo da mata estão a anta, veado, porquinho, cutia, cutiara, tatu, paca, paca de rabo, cobras, jabuti, sapo e os bichos de cima da mata estão o macaco prego, macaco preto, macaco soque, macaco suim, macaco de cheiro, mambira, capelão, quati, cairara, quatipuru, quatipuru roxo, irara e muitos outros. Esses bichos costumam plantar muitas frutas da floresta com a ajuda daqueles que vivem embaixo.
Quando a fruta está madura, os macacos começam a comer a carne da fruta e soltam os caroços de lá de cima. Quando os caroços caem, os animais que vivem embaixo como o nambu galinha, nambu azul, nambu preto, engolem os caroços das frutas, enchem o papo e saem caminhando para bem longe. Depois de 10 minutos de caminhada, começam a cagar os caroços das frutas. Isso acontece porque não tem resistência na moela para moer o caroço, que sai inteiro.
Os bichos que voam são: japinim, pavão, pato bravo, pica pau, gavião, aracura, mergulhão, mutum, cujubim, periquito, periquito cabeção, nambu, urubu, juriti, cigana, coró-coró, bacural, coruja, mãe da lua, caboré...
Já os bichos d’água são: bodó tronqueira, bodó preto, mandim, curimatã, piau, piaba, sardinha, cará, arraia, jacaré, puraqué, jundiá, surubim, peixe linha, braço de moça, traíra...
Hoje em dia, a gente vê o homem derrubando a mata para a criação de gado. A mata vai ficando sem bichos. Já tem muitos animais em extinção como: onça, gato do mato, paca de rabo, jabuti, mutum, queixada, preguiça, quandú. Já são muitos. A gente não imagina a vida sem a mata, a mata sem os bichos. Deve ser triste demais. Sem a mata não haverá nem os animais, nem o vento, nem o homem, nem nada.
Para nós a floresta é vida.
José Mateus Itsairu Kaxinawá
(adaptado de Geografia Indígena. CPI/AC,1992)

Tecelagem com algodão

Tecelagem com algodão
“Contam os antigos que a aranha é a dona do algodão. Antigamente era a aranha quem tecia as roupas dos Kaxinawá. Certo dia uma mulher reclamou com a aranha pela demora do seu trabalho.
A aranha ficou aborrecida com a impaciência da mulher e resolveu daquele dia em diante, não trabalhar mais para as mulheres Kaxinawá.
No entanto, antes de ir embora, ela ensinou a todas as mulheres a fiar e tecer com algodão. É por isso que todas as mulheres Kaxinawá sabem fiar algodão.
Agostinho Mateus Muru Kaxinawá

A Arte do Kene

O que é o Kene (pronuncia-se kenê) e sua origem

Esses desenhos geométricos ou kene, segundo um dos mitos Huni Kuin, vieram do Yube, a jibóia encantada.
“Yube é o dono desses desenhos e foi ele quem os deu para meu povo. É nossa identidade, força e proteção”.
Assim explica Agostinho Muru, pesquisador Kaxinawá do Rio Jordão.
Na expressão gráfica de domínio exclusivo do universo feminino, Agostinho Muru identificou vinte e quatro kene no corpo da jibóia e os classifica como desenhos básicos. Ele explica:
“Nesses desenhos estão representados vários elementos da natureza. Eu comparo esses kene com as letras do ABC dos brancos, que servem para formar as palavras. Na ciência do kene é a mesma coisa. As mulheres vão combinando esses kene básicos entre si dando origem a outro kene. Cada um deles tem um nome, assim como as letras do ABC dos brancos”.
Agostinho Muru traduz o kene como um “espírito visível” dos trabalhos das mulheres e consideram como “espírito invisível” todos os outros elementos com os quais as mestras se relacionam para trabalhar o kene.
“Nós acreditamos que tudo que tem na natureza tem espírito. Na nossa língua chamamos de yuxim. Quando uma mulher trabalha com o kene, ela trabalha vários yuxim da natureza... Da água, do fogo para tingir o algodão, da palha para tecer, do barro para fazer os utensílios. O kene é o espírito visível de todas as forças da natureza. E nós podemos conversar e trabalhar com outros yuxim porque também temos yuxim. Ele está no olho, por isso podemos ver.”.
A concepção da espiritualidade apresentada por Agostinho não está no plano sobrenatural. Ela se encontra na natureza. Yuxim como os Huni Kuin denominam o espírito ou a essência das coisas, está nas plantas, na água, do fogo, nos animais, enfim, em todos os seres vivos, elementos e fenômenos da natureza.
Em tempo: Yube: Conta um mito Kaxinawá que Yube foi um Huni Kuin que se transformou em cobra jibóia durante um grande dilúvio.
Do Livro: A arte do Kene – A arte dos Huni Kuin

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Algumas tradições indígenas

Um amigo lendo meu blog me sugeriu que abordasse a temática indígena brasileira que tanto me apaixona.
Tenho mais aproximação com as comunidades do Norte do Brasil, embora já conheça um pouco de comunidades do Nordeste e aqui do RJ.
Nos próximos textos escreverei um pouco sobre lendas, costumes, medicinas e o que lembrar desses nosso irmãos tão pouco conhecidos da maioria dos brasileiros.
Me aguardem...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Bênção de Brighd

A benção de Brighid




(Traduzido de Carmina Gadelica pg264)

Cada dia e cada noite
Eu recito a descida de Brighid

Não serei chacinado
Não serei atingido por nenhuma espada
Não serei colocado numa cela
Não serei cortado
Não serei aprisionado
Não estarei angustiado
Não serei ferido
Não serei despedaçado
Não serei cegado
Não serei despido
Não serei deixado nu
Nem irá Dagda
Deixar-me esquecido.

Nem fogo me queimará
Nem o sol me queimará
Nem a lua me empalidecerá

Nem a agua me afogará
Nem as cheias me afogarão
Nem o mar me afogará

Nem nenhuma fada me levantará
nem nenhuma exército me levantará
Nem nenhuma criatura terrena me destruirá

Eu estou sob o escudo
De Brighid, a bondosa, a cada dia
Eu estou sob o escudo
De Brighid, a bondosa, a cada noite.

Eu estou aos cuidados
Da filha de Dagda
Cada cedo e cada tarde,
Cada escuro, cada claro.

Brighid é minha camarada
Brighid é a minha criadora de canções
Brighid é a minha ajudante
A minha escolha, a minha guia.

http://fidnemedlusi tania.blogspot. com/2007/ 09/benso- de-brighit. html

Animal: simbolismo na mitologia celta

Animal simbolismo na mitologia celta

Universidade de Michigan

Animais em galês, mitologia celta e estão vinculados com a fertilidade e vitalidade, porque eles estão vivos, em movimento, e em crescimento. Oferecem também continuidade de vitalidade e vida para as tribos através da sua carne, peles e espinhas. Além disso, eles são uma ligação para o domínio dos deuses e dos espíritos. Esta ligação é visto através da sua utilização na caça, a busca de segredos e sabedoria.
Animais têm associações específicas em função das características do tipo de animal. Aves, peixes, serpentes, veados, bovinos, suínos, e assim por diante todos tendem a ser utilizados como símbolos. Javalis, peixes, serpentes, aves, gado e os animais são os mais frequentemente descritos.
Além de representar fertilidade e riqueza, javalis simbolizam coragem e fortes guerreiros (MacCulloch, 356) para que sejam fortes, perigosa, e muito difícil de matar. A sua aparição em sonhos e visões também indica guerreiros. Isolda no aviso da morte de Tristan, um grande guerreiro, veio em um sonho sobre a morte de um grande javali (Spector, 85-86).Estátuas de javalis são encontrados ocasionalmente na companhia de estátuas de guerreiros armados, (Powell, 176) indicando uma maior associação entre javalis e guerreiros. É atribuída uma grande importância para as cerdas de javali. Talvez eles são a característica distintiva do animal ou simbolizar a sua força. Por exemplo, Fion é morto por um javali a intensificação da ofender após quebrar um geasa contra a caça javalis (MacCulloch, 150). Alguns dos javalis extraordinária, que Rei Arthur lutas em Culhwch e Olwen, têm cerdas que são ouro e prata. Conversley, quando Menw tenta roubar tesouros de Twrch Trwyth, ele só é capaz de ter uma cerdas. É o cerdas do javali, Friuch, para provar que têm o maior poder, no final, Friuch renasce como Donn Cuilnge destrói Rucht como Finnebach Ai. As cerdas de javali são mencionadas muitas outras vezes o que implica que eles são uma parte importante do animal.
O salmão, em particular, estão associados com conhecimento. A criança que cresceu a ser chamado Taliesin, o sábio mago, foi encontrado um peixe no açude.O significado do salmão pode ser visto em muitos lugares. Gwyrhr questionou uma série de sábios animais, cada um mais sábio que o anterior, a mais antiga ea mais sensata de todos foi o salmão de Llyn Llyw (Ford, 148-149). Cú Chulainn utilizado o herói do salmão em todo o salto dos alunos para obter Scáthach Ponte da fortaleza, a fim de obter acesso a Scáthach's conhecimentos avançados de armas. Para conquistar os segredos Cú Chulainn tinha que usar o herói do salmão salto para Scáthach própria, a fim de ganhar os segredos reservado para sua família. Cada um salto na terra de magia trouxe Cú Chulainn a um maior conhecimento. A sua sabedoria também pode ser transmitida por ingestão. O salmão ganhar o poder mágico de sabedoria por consumir nozes que gota em sagrado molas (MacCulloch, 377). Simbolicamente a comer o salmão da sabedoria, tal Demne ganhou enorme sabedoria que ele foi renomeado (Ford, 20). Talvez este está na raiz da prática moderna onde as crianças são aconselhados a ingerirem peixes para aumentar a sua inteligência.